Finanças Comportamentais: 5 vieses que podem afetar os seus investimentos

Nesse artigo, iremos explicar o que é e como surgiu as finanças comportamentais, além de elencar cinco vieses cognitivos que interferem na nossa forma de pensar.

Apesar das finanças comportamentais terem sido teorizadas há mais de 40 anos atrás, elas só estão penetrando a academia e indústria agora. Compreender e classificar diferentes tipos de vieses pode ser muito importante para que o investidor seja capaz de tomar decisões mais assertivas e corretas.

Nesse artigo, iremos elencar cinco dos mais de 180 vieses cognitivos que interferem na forma como processamos os dados, pensamos e percebemos a realidade.

A origem das finanças comportamentais

O trabalho inovador dos psicólogos Daniel Kahneman e Amos Tversky nos anos 70 e 80, somado às pesquisas que sucederam o trabalho dos dois nas últimas décadas, revelaram grandes insights sobre a maneira complexa que a mente humana opera.

Estas pesquisas foram capazes de identificar vieses e heurísticas atuantes e enraizadas em nosso subconsciente, as quais afetam nossa tomada de decisão em inúmeras ocasiões. Dentro das finanças comportamentais, assume-se que os participantes do mercado não agem de modo perfeitamente racional; pelo contrário, são psicologicamente influenciados.

Embora estas descobertas tenham sua origem na psicologia, suas implicações para o mundo das finanças foram tão importantes que Kahneman recebeu o Prêmio Nobel de Economia em função delas. Esta nova área de estudos econômicos, que acaba por focar mais na parte da psique humana, ficou conhecida como Finanças Comportamentais.

Atualmente, o conhecimento sobre as Finanças Comportamentais é bastante vasto, abrangendo atividades de investimentos, planejamento financeiro, negociações e gestão de portfólio. Além disso, algumas delas estão derrubando antigas teorias vencedoras do Nobel de Economia acerca do mercado financeiro. Na verdade, esses vieses podem ser a fonte para a explicação de diversos tipos de anomalias que ocorrem no mercado de ações e provocam altas ou quedas severas nos preços dos ativos.

Os vieses

1. Disponibilidade

Viés que nos leva a definir a probabilidade de um evento acontecer com base nas informações disponíveis em nossa memória de um acontecimento similar recente.

Ficou confuso? Vou exemplificar.

Imagine que uma pessoa iria pegar um voo de São Paulo para o Rio de Janeiro na semana que vem, mas após ver no Jornal Nacional que um avião desapareceu próximo à Malásia, decide vender a passagem e realizar a viagem de carro. Será que faz sentido a decisão tomada? Racionalmente falando, não. A chance de ocorrer um acidente de avião é de uma em 8,5 milhões, e a de carro é de uma em 19 mil. Logo, nossa viajante hipotética caiu na heurística da disponibilidade.

O mesmo ocorre em algumas situações na Bolsa de Valores.

Lembra-se da reportagem do “rato na Coca”, em que supostamente um roedor foi encontrado dentro de uma garrafa do refrigerante? Mesmo sem que se confirmassem todos os fatos, diversos investidores liquidaram suas posições na empresa e outros afirmaram que jamais investiriam na companhia. 

2. Representatividade

Essa heurística considera situações passadas para tomar decisões de maneira mais rápida, geralmente baseando-se em experiências pessoais, que não refletem a realidade de maneira precisa. 

Exemplo: investidor que prefere não investir em imóveis em razão de crises imobiliárias que já ocorreram no passado.

Observe que a representatividade é bastante similar à disponibilidade, e elas são, em geral, bastante confundidas. Para diferenciá-las é simples, basta notar que a disponibilidade refere-se a eventos recentes, “frescos” na memória, enquanto a representatividade diz respeito a acontecimentos em um passado geral.

3. Ancoragem

Este viés cognitivo descreve a tendência que as pessoas possuem em se ancorar a uma parte da informação recebida, especialmente quando trata-se de valores e medidas.

Exemplo: você está indo ver um filme no cinema e decide parar para comprar um balde de pipoca na bomboniere. Ao consultar os preços, depara-se com as seguintes opções: pequeno (R$7,00), médio (R$14,50) e grande (R$15,00). Aparentemente, é mais vantajoso comprar o grande, devido à pequena diferença entre o seu preço e o da média. Esse é um exemplo comum de ancoragem, em que estima-se o produto de maior valor, pois comparamos ele com o de valor mais próximo.

Trazendo para o mundo dos investimentos, uma situação bastante comum de ancoragem é o indivíduo falar que “só irá comprar a ação quando seu preço chegar a custar X reais novamente”. Claramente, é mais um caso em que os fundamentos da empresa são esquecidos e o papel passa a ser apenas algo que contém um número.

4. Aversão à perda

Bastante comum em investidores que atuam no mercado de renda variável, trata-se de uma heurística na qual se tende a manter posições perdedoras (que estão com rentabilidade negativa) e se desfazer rapidamente de posições vencedoras (aquelas que apresentaram o mínimo de lucro). 

Essa situação foge do racional, pois o investidor acaba por se desviar dos fundamentos do ativo em que escolheu investir e torna sua atenção somente ao preço, como se fosse um fanático torcendo pelo seu time. Não faz sentido cortar as pétalas de uma rosa e manter seus espinhos.

5. Framing

Refere-se à maneira de como uma adversidade é expressa. Em várias situações, as pessoas são influenciadas pelo formato do problema e acabam respondendo de maneiras diferentes, a depender de como o fato lhes foi apresentado. Este viés acaba tornando-se ainda mais evidente quando se deseja evidenciar ganhos ou perdas. 

O efeito Framing pode ocorrer de diversas maneiras no mercado financeiro. Uma delas pode ser verificada na apresentação de resultados da empresa, em que, muitas vezes, compara-se o resultado obtido no trimestre ora em relação ao trimestre anterior, ora em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, a depender do impacto que isso irá gerar no psicológico dos investidores.

Conclusão sobre as Finanças Comportamentais

Entender como as pessoas se comportam e a maneira em que constantemente fogem do pensamento racional nos mostra que devemos ser ainda mais cautelosos nas decisões tomadas, especialmente no universo dos investimentos.

Atitudes como fazer uma pausa, analisar a situação calmamente e se questionar se está tendo uma visão completa do todo ou apenas de um pedaço do todo certamente farão com que suas decisões sejam mais claras e corretas. Isso vale para qualquer aspecto da sua vida.

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