Rússia X Ucrânia: entenda os impactos na economia

As tensões no leste europeu aumentaram drasticamente ao longo dos últimos dias. A tentativa russa de dominar territórios ucranianos levou a inúmeros ataques bélicos em regiões estratégicas do país. Imagens chocantes de explosões, atropelamentos, capturas de soldados e até resistência de civis têm circulado globalmente nas redes sociais. 

O objetivo deste artigo é explicar superficialmente as motivações por trás do líder russo, Vladimir Putin, e contextualizar acerca da história e interesses geopolíticos envolvendo os dois países. Ademais, explicaremos como o conflito pode afetar a sua vida e impactar os seus investimentos, além de sugerir maneiras de se proteger financeiramente.

Contexto histórico e motivações

Tudo começou no fim da Guerra Fria, quando houve a dissolução da União Soviética. Pouco depois, no ano de 1991, a Ucrânia declarou-se independente. No entanto, ainda há regiões ucranianas profundamente ligadas à cultura russa, até mesmo em termos de idioma. 

A crescente tentativa da Ucrânia integrar a Otan, aliança militar criada em 1949 e composta por 30 nações, acendeu um alerta vermelho na Rússia, que passou a enxergar a proximidade entre as partes como uma ameaça aos seus interesses políticos, comerciais e em zonas de influência no Leste Europeu. Vale lembrar que o país já havia reprovado o ingresso de seus vizinhos Lituânia, Estônia e Letônia na Otan no ano de 2004.

Além disso, a Ucrânia representa uma região estratégica para os russos, visto que configura um acesso a portos de águas quentes, inexistentes no território comandado por Putin. Lá, os mares ou são congelados ou são isolados. Trata-se, portanto, da porta de acesso russa para o mundo naval, ou seja, para o meio de transporte mais barato do mundo.

Mapa com as diferentes regiões do continente europeu. Em laranja, o Leste Europeu. Fonte: Todamatéria.

Então, em abril do ano passado, a Rússia começou a enviar tropas para próximo da fronteira com a Ucrânia, chegando ao número de 190 mil soldados até pouco antes da invasão ao país.

Era uma tragédia anunciada, mas que mesmo assim surpreendeu o mercado em geral. Como resposta, diversos países anunciaram sanções à Rússia e enviaram armamentos e dinheiro para os ucranianos, ainda que de maneira um pouco tardia. 

O mercado

Reagiu mal ao início dos conflitos, especialmente na própria Rússia, com o IMOEX (principal índice do país) caindo quase 46% após dois dias do início da guerra. Na Ucrânia, houve o fechamento da bolsa (circuit breaker) também no período. Para completar, o VIX, indicador bastante conhecido que mede o temor do mercado, teve aumento em cerca de 23,69% no primeiro dia de tensões.

Gráfico de desempenho do índice MOEX Rússia. Fonte: Tradingview.

Gráfico de volatilidade do índice S&P500. Fonte: Tradingview.

Possíveis impactos financeiros

Aumento de preço na energia 

Caso a Rússia interrompa o fornecimento de gás natural à Europa, não há dúvidas de que a região será extremamente afetada. Certamente conseguirá sobreviver ao próximo inverno, mas a grande custo.

Isso porque o continente importa cerca de 40% de todo seu gás natural da Rússia. Há países que chegam a importar dos russos o equivalente a 80% do gás utilizado, como a Polônia, por exemplo.

Logo, caso o corte da commodity se concretize, os países europeus terão que pensar em outras maneiras de reabastecer seus estoques, a fim de conseguir garantir luzes acesas e aquecimentos para suas residências. O impacto da urgência pelo produto e redução da sua oferta será traduzido em aumento de preço do gás natural no mercado.

A Bruegel, instituição econômica com sede em Bruxelas, afirmou: “Se a UE for forçada ou estiver disposta a arcar com o custo, deve ser possível substituir o gás russo já para o próximo inverno sem que a atividade econômica seja devastada, as pessoas congelem ou o fornecimento de eletricidade seja interrompido… Mas no terreno, dezenas de regulamentos terão que ser revisados, procedimentos e operações usuais revisitados, muito dinheiro gasto rapidamente e decisões difíceis tomadas”.

Aumento no preço do barril de petróleo 

A Rússia é o segundo maior exportador de petróleo do mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. Em um cenário no qual ela decida interromper essa exportação, imagina-se que ocorrerá um aumento no preço da gasolina, em razão da menor oferta do produto no mercado. E é verdade. No entanto, o petróleo também é utilizado em outras diversas atividades essenciais, como no funcionamento de usinas termelétricas e na fabricação de plásticos e borrachas. 

Além disso, toda a cadeia produtiva necessita dos derivados de petróleo durante seu processo, essencialmente no transporte, seja ele realizado por via aérea, marítima ou terrestre. Dessa forma, pode-se esperar uma elevação em basicamente todos os produtos e serviços disponíveis.

Volatilidade nas bolsas mundiais

Em períodos considerados incertos, como a guerra que se passa no Leste Europeu atualmente, é de se esperar que o mercado torne-se mais temeroso e que retire boa parte dos investimentos em renda variável, aportando-os em renda fixa ou guardando em caixa.

Exemplo recente é a grande queda que o mercado global sofreu com a crise do coronavírus em março de 2020. No período, o Ibovespa chegou a despencar mais de 45% em cerca de um mês. Essa volatilidade pode representar boas oportunidades de compra ou venda de ativos, dependendo da tendência de mercado que for observada.

Volatilidade do índice IBovespa. Fonte: Tradingview
Escalada dos preços do dólar e do ouro

São considerados reservas de valor os ativos que atuam como proteção contra as variações do mercado. Em geral, eles preservam seu valor ao longo do tempo, são escassos, possuem liquidez e não se deterioram com facilidade. Atualmente, o mercado considera o ouro e o dólar como os principais ativos de reserva de valor. 

Em momentos de crise como as vividas no Leste Europeu e acompanhadas pelo mundo todo, eles tendem a se valorizar, pois é esperado que os investidores liquidem suas posições em renda variável, temendo a incerteza do mercado, e migrem seus capital para ativos considerados mais seguros, como as reservas citadas. 

O ouro ainda leva vantagem sobre o dólar pelo fato de sua escassez ser limitada pela natureza. A moeda americana pode ser emitida basicamente sem restrição alguma, tornando-a mais fraca e menos desejada em relação ao seu concorrente. Isso pode explicar a diferença entre a variação dos preços do dólar e ouro nos últimos dias.

Gráfico de desempenho do Futuros de ouro entre 17 de fevereiro e 2 de março de 2022. Fonte: Tradingview.

Queda do rublo russo

É necessário muito dinheiro para financiar uma guerra. Por mais que a Rússia possua enormes reservas em moeda forte (U$640 bilhões), é de se esperar que parte da verba destinada ao conflito venha através da emissão de dívida. Esse fato, somado às sanções impostas por parte dos outros países, tenderá a desvalorizar sua moeda. 

Para se ter uma ideia, durante a Segunda Guerra Mundial, a União Soviética teve um gasto aproximado de U$192 bilhões, o que representava cerca de 55% do seu PIB na época. No conflito atual, estima-se que o custo bélico diário do país gire em torno de U$20 bilhões, considerando aspectos inflacionários, obviamente. Os impactos na moeda local já começam a ser experienciados, com desvalorização chegando perto dos 39% nas mínimas do período recente.

Gráfico de desempenho do Rublo Russo de 13 de fevereiro a 3 de março de 2022. Fonte: Tradingview.

É importante destacar que a brusca desvalorização recente do rublo russo ocorreu em função das sanções realizadas por diversos países e da saída de sete bancos do país do sistema Swift, responsável por viabilizar o pagamento e a transferência de recursos entre empresas de vários países. Portanto, não deve-se atribuir a depreciação da moeda aos gastos com a guerra somente.

Diante a isso, o que fazer?

Embora os gastos com guerra e defesa possam ser uma parcela considerável do PIB, os conflitos bélicos geralmente têm pouco impacto nos mercados de ações ou no crescimento econômico doméstico, como se pode observar na tabela abaixo. Percebe-se que o retorno durante as quatro guerras exemplificadas esteve bastante próximo à média total do período, dividido por classe, a ligeiramente superior em ações. 

Como sempre, a diversificação será sua aliada em momentos de incerteza. Tentar prever como o mercado irá reagir certamente não é a melhor opção. Ray Dalio, gestor e fundador da Bridgewater Associates, maior fundo de hedge do mundo, já dizia: “aquele que vive segundo uma bola de cristal está fadado a comer cacos de vidro”. 

Fonte: estudo feito por Mark Armbruster, presidente da Armbruster Capital Management.

Em meio ao risco de interrupção no fornecimento das commodities russas (petróleo, gás natural, trigo etc), é de se esperar que a alocação de capital nesses ativos ou em empresas que venham a ser beneficiadas com sua valorização possa oferecer um retorno atrativo no atual ambiente de inflação elevada e taxas de juros mais altas

É natural que uma carteira bem diversificada sofra um desbalanceamento, seja na valorização de certos ativos, como ouro e dólar, como na desvalorização de outros, como ações e criptomoedas, por exemplo. O importante é manter-se fiel à sua estratégia de longo prazo e ter entendimento de que narrativas causarão flutuações de curto prazo, porém o certo a se fazer é manter a calma e aproveitar as oportunidades que aparecerem.

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